"O Trio Elétrico, com seu som antropofágico,
vai carnavalizando tudo. Desde os populares mais clássicos,
até os clássicos mais populares."
(Caetano Veloso)
Década de 30
Existia em Salvador um conjunto musical, criado por Dorival
Caymmi, que animava algumas festas e reuniões de
fim de semana, e que se apresentava nas estações
de rádio. Começava, então, a fazer
sucesso na Bahia o grupo Três e Meio, cujos integrantes
eram o próprio Caymmi, Alberto Costa, Zezinho Rodrigues
e Adolfo Nascimento – o Dodô. Em 1938, com a
saída de Caymmi, o grupo reestruturou-se e passou
a contar com sete componentes, incluindo Osmar Macêdo.
1942
Em apresentação na cidade de Salvador, o violonista
clássico Benedito Chaves (RJ) mostrou pela primeira
vez ao público local um "violão eletrizado".
Dodô e Osmar, ávidos em conhecer tal instrumento,
foram assistir ao show no cine Guarani e ficaram extremamente
entusiasmados. Embora fosse um violão comum, importado
e com um captador inserido à sua boca, o instrumento
era muito primitivo e possuía microfonia. Dodô,
porém, incansável na busca da superação
deste problema, construiu em poucos dias um violão
igualzinho ao de Benedito Chaves para ele, e um cavaquinho
para Osmar. Apesar da microfonia persistir, os dois uniram-se
mais uma vez para formar a "Dupla Elétrica"
e começaram a se apresentar em diversos lugares.
Num determinado dia, Dodô resolveu esticar uma corda
de violão sobre a sua bancada de trabalho e prendê-la
nas extremidades; sob a corda, colocou um microfone preso
à bancada. Quando a dupla ligou o microfone, algo
inacreditável aconteceu um som limpo, que parecia
até o de um sino. Estava, então, descoberto
o princípio e logo foi possível perceber que
o "cêpo maciço" evitava o fenômeno
da microfonia – e assim, com o nome de pau elétrico,
nasceu a guitarra baiana.
1943/49
A dupla elétrica passou, então, a tocar em
clubes, festas e bailes, com seus próprios instrumentos.
1951
Na quarta-feira anterior ao Carnaval, o famoso "Clube
Carnavalesco Vassourinhas do Recife", com 150 componentes,
apresentou-se em Salvador com metais, alguma madeira e pouca
percussão.
Na manhã do dia seguinte à apresentação
dos pernambucanos, Dodô e Osmar começaram a
trabalhar no projeto de construção do que
viria a ser o "trio tlétrico". Osmar, proprietário
de uma oficina mecânica, retirou do galpão
um Ford 1929, conhecido como "Fobica", e iniciou
o processo de decoração pintando em todo o
veículo vários círculos coloridos como
se fossem confetes e confeccionou em compensado, no formato
de violão, duas placas com os dizeres "Dupla
Elétrica".
Dodô, com formação em radiotecnia,
decidiu montar uma "fonte" que, ligada à
corrente de uma bateria de automóvel, iria alimentar
a carga para o funcionamento dos alto-falantes instalados
na fobica (onde eles se apresentariam com os seus "Paus
Elétricos").
Em pleno domingo de Carnaval, a dupla subiu a ladeira da
montanha em direção à Praça
Castro Alves e Rua Chile, por volta das 16 horas, e arrastou
milhares de pessoas. Dodô e Osmar, em cima da fobica
decorada e eletronicamente equipada, fizeram, assim, sua
primeira aparição como os inventores do trio
elétrico.
A dupla resolveu convidar o amigo e músico Temístocles
Aragão para formar o que se chamaria de trio elétrico.
O nome foi ganhando fama, fazendo com que, nos anos seguintes,
as pessoas ouvissem o som eletrizante e dissessem: "Lá
vem o trio elétrico".
1952
A fábrica de refrigerantes "Fratelli Vita"
decidiu patrocinar o trio elétrico de Dodô
e Osmar e a dupla abandonou a velha fobica e passou para
um veículo grande, colocando nele oito alto-falantes,
corrente elétrica de geradores e iluminação
com lâmpadas fluorescentes. O patrocínio permaneceu
até 1957 – época em que o trio elétrico
de Dodô e Osmar apresentava-se nas ruas centrais de
Salvador e animava carnavais fora de época no interior
do Estado.
1953/58
Surgiram, então, novos trios elétricos tocando
em cima de caminhonetes como o Ypiranga, Cinco Irmãos,
Conjunto Atlas, Jacaré (posteriormente chamado de
Saborosa) e o Paturi ( Feira de Santana/BA.)
1956
Surge o conjunto musical Tapajós (montado em uma
caminhonete), primeiro seguidor e grande responsável
pelo fato do trio elétrico, como estrutura física,
ter se mantido e se expandido como fenômeno carnavalesco.
1957
O trio elétrico Tapajós anima o Carnaval no
Subúrbio Ferroviário.
1958
O trio elétrico Dodô e Osmar ganhou o patrocínio
da Prefeitura Municipal de Salvador.
1959
A convite do governador de Pernambuco, o Trio Elétrico
de Dodô e Osmar saiu pela primeira vez da Bahia para
tocar no Carnaval de Recife, sob o patrocínio da
"Coca-Cola".
1960
O trio elétrico Tapajós compra de Dodô
e Osmar uma de suas carrocerias.
1961
O trio elétrico de Dodô e Osmar deixou de participar
do Carnaval em virtude da morte do sogro de Osmar, Armando
Costa, maior incentivador do grupo. O Tapajós firmou
o primeiro contrato comercial com a Coca-Cola para animar
as micaretas das cidades de Feira de Santana, Pojuca, Catu
e Alagoinhas.
1962
O Carnaval não teve mais uma vez a participação
do trio de Dodô e Osmar; por outro lado, assistiu
à estréia do Tapajós, desfilando pelas
ruas centrais da Cidade.
1963
Com o patrocínio da Refinaria Mataripe, o trio de
Dodô e Osmar voltou a participar do Carnaval de Salvador:
era um carro alegórico, montado sobre uma carreta.
Armandinho, com apenas nove anos de idade, já era
o solista do trio. No concurso de trios elétricos
promovido pela Prefeitura, o vencedor foi o trio Tapajós,
com uma nova carroceria totalmente metálica.
1964
Osmar resolveu construir uma miniatura de trio elétrico
em uma pick-up Ford F-1000. A engenhoca era destinada a
seus filhos e aos filhos de Dodô, os quais tinham
todos no máximo 12 anos. O trio elétrico Tapajós
animou o Carnaval de Recife (PE) sob o patrocínio
da Coca-Cola e do Departamento de Turismo do Recife.
1965
O mini-trio de Armadinho e Betinho voltou a comandar o Carnaval
de Salvador. O trio elétrico Tapajós consagra-se
campeão.
1966
O trio elétrico Tapajós foi aclamado bi-campeão.
1967
O Tapajós consagrou-se tricampeão do Carnaval
de Salvador, em concurso promovido pela Prefeitura.
1969
Caetano Veloso lançou a música "Atrás
do Trio Elétrico Só Não Vai Quem Já
Morreu". O trio Tapajós lançou no mercado
fonográfico o primeiro disco gravado por um trio
elétrico e foi ao Rio de Janeiro para reforçar
o lançamento nacional da música. Em uma semana,
a canção passou do sétimo para o segundo
lugar nas paradas de sucesso e foi apresentada no programa
televisivo "A Grande Chance".
1972
Um histórico encontro na Praça Castro Alves
ocorreu entre Osmar – que tocava no trio elétrico
Caetanave - e Armandinho, que se apresentava em cima do
trio Saborosa, fazendo o "Desafilho".
O Tapajós homenageou Caetano Veloso, pela sua volta
do exílio em Londres, com o lançamento da
"Caetanave",um trio com linhas arquitetônicas
arrojadas, uma verdadeira obra de arte que, que com a devida
proporção dos tempos, até hoje não
foi superada. Nas ruas, o público pôde apreciar
os baianos Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa em cima
do trio.
1973
O trio Tapajós animou o Carnaval da cidade de Curitiba.
1974
Depois de uma longa ausência, a dupla Dodô e
Osmar retornou ao Carnaval com uma nova formação
– "Trio Elétrico Armandinho, Dodô
e Osmar". Na ocasião, eles gravaram um disco
sob o título "Jubileu de Prata", em comemoração
aos 25 anos de criação do trio. O Tapajós
– que havia gravado seis LP´s e dois compactos
- foi animar o Carnaval de Belo Horizonte.
1975
Após sua estréia em 1950, a fobica voltou
às ruas para comemorar o Jubileu de Prata do trio
elétrico. Uma grande festa foi organizada para homenagear
seus inventores, incluindo um desfile de vários trios
elétricos puxados por Dodô e Osmar. Especialmente
montados e decorados para a parada, os trios saíram
do Campo Grande e chegaram até a Praça Castro
Alves, onde executaram em conjunto o "Parabéns
a Você". Em seguida, a dupla recebeu o troféu
comemorativo ao jubileu pela criação da "máquina
de gerar alegria".
Em apoteóticas homenagens, a famosa dupla Dodô
e Osmar despediu-se instrumentalmente do Carnaval. A empresa
Souza Cruz contratou dois trios da Tapajós para a
cidade do Rio de Janeiro
1976
O Tapajós animou os carnavais de Salvador, Belo Horizonte
e Santos. Surgiu, então, a empresa Tapajós
Promoções Artísticas e Publicidade
Ltda.
Durante show na Concha Acústica de Salvador, Armandinho
lançou mais uma engenhoca de autoria de Dodô:
uma guitarra de dois braços, batizada de Dodô
e Osmar.
Surgiu pela primeira vez nas ruas de Salvador o trio elétrico
dos Novos Baianos, equipamento que causou uma verdadeira
revolução no cenário musical. A sonorização
do trio mudava completamente, saindo dos tradicionais amplificadores
de válvulas e das cornetas Sedam para caixas acústicas,
twiters e cornetas Snak. A linguagem musical também
sofreu mudanças, com os Novos Baianos cantando músicas
do repertório popular. Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Gal Costa e Maria Bethânia reuniram-se e batizaram
o grupo com o nome de "Os Doces Bárbaros".
1977
O trio elétrico Tapajós animou também
o Carnaval em Brasília.
Através do lançamento da música "Pombo
Correio", o trio elétrico Dodô e Osmar
foi especialmente decorado com uma gigantesca ave branca
afixada na proa do veículo, que batia as asas ao
ritmo do instrumental do trio.
1978
Morreu um dos pais do trio elétrico, Adolfo Nascimento,
o Dodô. Seu sepultamento foi acompanhado pelo trio
Tapajós, envolto numa enorme faixa preta em sinal
de luto, executando a Ave Maria de Gounot e a marcha fúnebre
de Choppin, além do Hino ao Senhor do Bonfim.
Neste ano, aconteceu o casamento do som dos afoxés
com o trio elétrico, graças a Moraes Moreira
e ao seu parceiro e poeta Antônio Risério,
com o lançamento da música "Assim Pintou
Moçambique".
1979
Três carros-trios da empresa Tapajós foram
contratados por entidades carnavalescas de Salvador.
Na festa comemorativa do tricampeonato do Esporte Clube
Flamengo, o trio Tapajós foi contratado para, ao
som de um frevo especialmente composto por Moraes Moreira,
arrastar uma verdadeira multidão de torcedores do
Maracanã até a Gávea, atravessando
quase toda a cidade do Rio de Janeiro.
1980
O trio elétrico Traz os Montes - na verdade, equipamento
de uma entidade carnavalesca – desfilou pela primeira
vez nas ruas de Salvador. O Traz os Montes, por sinal, firmou-se
como o trio que mais introduziu as novidades técnicas
no Carnaval, possuindo um som extraordinariamente potente
e de ótima qualidade e inovando com toda a aparelhagem
transistorizada.
Com arranjo especial de Armandinho, a composição
"Beleza Pura", de Caetano Veloso, foi a música
mais executada por todos os trios elétricos.
A cidade do Rio de Janeiro abriu suas festividades momescas
com uma batalha de confete em Madureira, cuja atração
principal era o trio elétrico Tapajós.
Na cidade de Natal(RN), começou-se a observar a presença
de três trios elétricos no Carnaval, cujas
construções tinham como consultor Osmar Macêdo.
1981
O novo trio de Armandinho, Dodô e Osmar teve como
tema a música "Vassourinha Elétrica",
que, em poucas semanas, tornou-se sucesso de vendagem em
todo o País.
O trio elétrico Novos Baianos, comandado pela única
cantora de trio, Baby Consuelo.
1983
Um trio elétrico construído na Itália
foi inaugurado na Pizza Navona diante de 80 mil pessoas
embaladas ao som da banda de Armandinho, Dodô e Osmar
trieletrizado o "Império Romano".
1985
Um outro trio elétrico foi construído na França
para fazer o Carnaval em Toulouse.
1986
O trio elétrico Armandinho, Dodô e Osmar foi
para a Copa do Mundo do México e, na volta, foi à
França para percorrer várias cidades da Riviera
Francesa, terminando em Lion.
1988
Foi criado o trio elétrico Espacial, com palco giratório
e elevado automático.
1990
O trio elétrico completou 40 anos.
1992
Orlandinho, filho de Orlando Campos, resgatou o trio Caetanave
e prestou uma homenagem à seu pai, promovendo neste
Carnaval o encontro de gerações.
1997
O outro pai do trio elétrico, Osmar Macêdo,
faleceu e teve seu sepultamento realizado com um cortejo
de trios elétricos passando na Praça Castro
Alves.
1998
Foi inaugurado, na Praça Castro Alves, monumento
em homenagem à dupla Dodô e Osmar.
A fobica voltou às ruas durante o Carnaval em homenagem
a Osmar.
1999
O percussionista Carlinhos Brown retomou o projeto da Caetanave
e trouxe um novo equipamento para as ruas de Salvador.
2000
A fobica e seus idealizadores foram mais uma vez homenageados
no ano em que o trio elétrico completou 50 anos de
existência.